Arte: Alice Wellinger.
18 de dezembro de 2018.
Helena,
Sempre me considerei uma pessoa madura, pois veja só a quantidade de coisas que passei. Sei o que é encarar internar alguém que você ama pois ela não te reconhece mais, sei o que é perder, viver um luto, me mudar de cidade sozinha, passar noites em claro com um bebê… Sei todas essas coisas, como poderia não ser o epítome da maturidade no auge dos meus 26 anos?
Esse foi o ano em que assumi em voz alta como não sou madura, sei de nada e tudo que passei não me preparou para uma grande parcela de coisas que vou passar nessa vida.
Foi um dia quase normal, estava voltando para casa depois de um dia relativamente tranquilo de trabalho. Você tinha ido na festa da escola e seu pai me enviou várias fotos. Estava bem.
Fui atravessar a rua e me deparei com uma menina de uns vinte anos, duas malas nas mãos, olhando para o celular meio desesperada, não sabia onde estava. Perguntei se estava tudo bem e ela me disse que havia acabado de chegar na cidade e não estava encontrando a casa da amiga.
Ajudei a moça a encontrar seu rumo e fiquei olhando ela partir com aquele olhar que tanto conheço. O olhar das possibilidades. O olhar do medo e da descoberta. Esse olhar que não sei bem onde foi parar pois faço todo dia o mesmo caminho, como as mesmas coisas, deito na mesma cama e falo com as mesmas pessoas.
Talvez, por nunca ter tido nenhuma constante na vida, sempre me mudando, sempre inconformada, estar nesse momento onde minha maior preocupação é o dinheiro e o trabalho, me sinta estacionada, sem energia.
Mas filha, aqui entra a parte da maturidade que constatei que tanto me falta… Não sei lidar com as coisas boas.
Seja pelo medo de perdê-las ou por entender que tranquilidade é estar parada no limbo. Por não ver possibilidades em saber exatamente o que me espera no fim do dia e encarar isso como um espaço para fazer outras coisas novas como um curso inusitado, ler mais livros, aproveitar um silêncio tranquilo.
Eu não sei quem sou sem o desespero, medo e dor. Eu não sei quem sou sem a depressão ou a euforia.
Descobrir essa nova Paola que se angústia com a falta de angustia tem sido voltar a entender que não sou só uma jovem mulher que ainda vai viver muito, mas me encarar com mais gentileza.
Constantemente começo a abandonar tudo que fiz para meu próprio autocuidado, pois me cuidar não pode ser prioridade. Certo? Tenho muitas coisas para fazer.
Sei ver a beleza no mundo quando tudo está feio, não sei ver a beleza no mundo quando tudo está bem. E por isso fiquei tanto tempo sem escrever para você, pois, pela primeira vez em cinco anos estou completamente perdida mas o motivo é ótimo.
Me sinto uma outra versão de uma jovem com malas na mão, só que dessa vez não estou sozinha, em pânico, sem saber se vou ter dinheiro para pagar as contas mês que vem ou sem perspectiva de futuro. Dessa vez eu sei por onde começar apesar de não conhecer todo o caminho, minhas malas são pesadas mas meus braços estão mais fortes e posso respirar fundo antes de continuar a jornada.
Posso ser uma jovem de vinte e seis anos com algumas respostas apenas. Não preciso saber tudo, não preciso viver exausta.
Se me fizeram acreditar a vida toda que preciso estar sempre cansada e produtiva, lutando e me provando, veja bem, nada disso importa.
O que importa tem um coração no peito.
Com amor,
Mamãe.
Paola, cheguei na conclusão depois de 49 anos nesse mundo que as pessoas realmente maduras são aquelas que não possuem certezas absolutas ou usam de poder para se sobressair sobre outras, não vivem com rancor ou acreditam que tudo é perfeito.
Obrigada por voltar a escrever. Continue sempre porque o mundo precisa de pessoas que escrevam sobre suas fragilidades e sonhos.
Imagino que você seja uma pessoa de poucos amigos e só queria deixar registrado que queria ser sua amiga.
Óia!
Que surpresa boa poder te ler de novo!
E depois de quarentar só posso dizer que a vida começa mesmo aos 40. Antes disso é só um ensaio. Depois dos 40 a energia se renova e a gente passa a acreditar que vai dar tempo pra tudo! Pras viagens, cursos, amores, novidades! Tudo de um jeito 40 de ser, estar e fazer!
Um lindo, rico e vasto ensaio é o que te desejo. Te espero aqui nesse lugar dos “entas” pra trocarmos logo mais!
Bjo pra vcs!!!
Maturidade é abrir mão do controle. Obrigado por essa carta.