10 de maio de 2020.
Querida Helena,
O cenário em que escrevo essa carta é muito diferente dos que vivemos nos últimos anos. Está entrando um vento frio pela janela da sala, um pouco de sol ilumina as plantas que me dei de presente de Dia das Mães, estamos todos empanturrados de bacon, ovo e abacate que você e o Delmo me fizeram de café da manhã. A diferença de cenário é que eu escrevo não só em meio a uma pandemia global em que estamos dentro de casa faz dois meses, mas porque faz dois anos que não escrevo.
Dois anos.
A vida foi uma sequência de decisões privilegiadas porém difíceis nos últimos anos. Não me lembro de ter ficado tão cansada ou ter me sentindo tão estressada em alguns momentos desde que você nasceu. Sempre correndo, sempre arrumando algo, sempre com medo de algo dar errado. Quando você vive com tanto medo, em alguns momentos seu corpo começa a sentir – e acredite, isso é nada bom.
Nesses dois anos fiz uma cirurgia em busca de uma vida mais saudável, montamos nossa casa, viajamos mais do que nunca e eu pude finalmente conhecer lugares que sempre quis e talvez tenhamos nos distanciado de quem sempre fomos com distrações vazias. Eu me distanciei.
Já escrevi sobre isso, mas a verdade é que todos os textos foram cheios de muita resignação “Agora é assim”, mas o ponto de toda a existência desse blog é a não resignação, é o lutar por realidades e consciências melhores. Se eu quisesse te enviar uma mensagem para a vida, seria a coragem. Coragem não só para enfrentar os problemas, mas para se manter fiel ao que você ama.
O mundo muda, nós mudamos, mas ser compreensiva não é se calar diante do sofrimento das pessoas ao nosso redor. A omissão sempre cobra seu preço.
Então Paola, por favor, tome coragem.
Vivemos tempos sombrios, as pessoas que conheço não estão bem e todo dia vou dormir com um nó na garganta que tudo que me machucou e não falei nada, porque acredite, em tempos como esse é importante escolher suas batalhas. Todos os dias acompanhamos o número de mortos torcendo para que não seja ninguém que amamos. Olho o número da lotação de UTI torcendo para que não precise voltar para o hospital mais.
Ficar em casa por tanto tempo em uma condição tão privilegiada que é ter água encanada, esgoto tratado, comida na mesa… Precisa servir para algo. Não existe forma de passar por isso sem sentir mudanças profundas, principalmente no que vamos colocar nossa voz e energia.
E nesses anos todos foram tantas mensagens de pessoas perguntando sobre o blog, porque não falava mais, porque havia sumido… E de tudo de bom que existe para se colocar energia, esse espaço de cartas para você foi o que me fez ser uma pessoa melhor. Quando você lê tantas histórias, tantos comentários, recebe tanta troca positiva sobre lutas diárias, isso te transforma.
Aqui nós tínhamos voz e depois de tanto tempo, é preciso voltar a ter coragem de falar.
São tempos que exigem coragem.
Coragem de se posicionar, coragem de sonhar com uma realidade menos dolorosa e fazer do sonho realidade. Coragem de contar pessoas e não números. Coragem de dizer não. Coragem de voltar a abrir o coração.
Com amor,
Mamãe.
Paola, te leio desde 2013, quando você escrevia textos surreais na Obvious. Sempre admirei seu posicionamento e coragem. O Cartas para Helena é lido pela minha filha e duas sobrinhas.
Sentimos sua falta. Obrigada por voltar!
FINALMENTE VOCÊ VOLTOU!
Assisti uma palestra sua na Campus Party em 2018 e saí de lá tão inspirada que comecei a te seguir em todos os lugares. Nunca mais vi nenhuma atualização mas com alguma frequência pensava em você. Nunca duvide no seu potencial, as pessoas te escutam por um motivo, por ser verdadeiro.
Obrigada!
Minha felicidade de hoje foi receber o email depois de anos que você havia publicado novamente.
Paola, o mundo precisa de mais iniciativas assim. Te sigo no Instagram e vi como você foi ficando reclusa e triste. Nós te amamos, acredite em você!
Que saudades e que bom que voltou!
Obrigada por ter voltado! Você é uma mulher muito corajosa e uma inspiração para mim. Acompanho os textos desde o comecinho do blog e fico feliz em ver seu retorno. Espero muito que vocês estejam bem. Sintam-se abraçadas!