Carta escrita dia 15 de abril de 2018.
Helena,
Esse ano comemoro três anos morando em SP. Sempre que me perguntam desde quando estou aqui, segue a questão “E está gostando?”. Aprendi a responder que tenho uma relação de amor e ódio com essa cidade, só não conto que isso se deve a todo o conhecimento sobre a mulher que sou que essas ruas me ensinaram.
Quando saí de Pindamonhangaba sem nada, sonhava com liberdade. A liberdade de poder conhecer pessoas novas, construir uma vida profissional sólida e te criar nos meus próprios termos. Meu último ano foi mais trancada em casa que descobrindo algo novo. Tudo de novo foi muito custoso. Pedi demissão do cargo que sonho faz alguns dias. Descobri que você me ensina mais sobre te criar do que eu. E amor, amor é construção. Romance… O que é isso mesmo?
Exatamente agora me sinto amargurada. Sabe o sentimento de nadar, nadar e nadar para chegar exausta na praia? Sonhando com uma cama quente? Então, parece que poderia dormir por dias e continuaria exausta e não sei nem se valeu a pena tocar na areia desse pseudo paraíso.
Por anos exerci um cargo sem ter o nome dele, até que finalmente consegui e percebi que estava me tornando alguém que odiava ser. Uma pessoa no automático, com prioridades invertidas. Cuidado com o que desejas, pode se tornar realidade. Talvez acabe por tatuar essa frase em alguma costela. Nada resume melhor essa fase da vida.
Tudo que queria descobrir e experimentar, tem sido uma luta conseguir uma parcela disso. Ter que convencer todos a minha volta e eu mesma da importância de buscar essa liberdade… Essa liberdade que me custou tão tão caro, me coloca por questionar os últimos anos. Devia ter saído de Pinda? Devia ter feito metade do que fiz? Por que estou fazendo tudo isso ainda?
E acho que tudo se intensificou depois que dei uma palestra em uma escola numa cidade do Vale. Foi difícil responder sobre meu atual projeto de vida, quando parece que meu propósito se perdeu em algum momento dessa confusão toda. Temos um lar confortável que por vezes parece me comprimir até faltar ar. Tenho uma promissora carreira profissional que me fez trabalhar até a exaustão, até esquecer o que estou fazendo. Tenho todo um futuro pela frente e continuo sentindo que nadar, nadar e cair na praia não é o caminho.
Nem o que escrevo faz sentido.
Mais uma vez enjaulei meus sonhos e desejos para existir no espaço que me coloquei. Me adaptei. Me satisfiz com o que foi dado. Me justifiquei e desisti com desculpas esfarrapas. Cada dia mais acordo com a sensação que se encontrasse aquela Paola que pegou o ônibus para essa cidade, diria que tudo que ela queria, conseguiu. Parabéns. E agora ela irá se sentir todo dia um pouco morta por dentro.
E é isso querida, encontrar esse tal equilíbrio. Esse espaço físico e mental onde você tem foco para chegar onde quer, mas precisa não se apequenar para existir em universos limitados. Se mutilar e diminuir para viver a caixa de outras pessoas. Precisa mudar as metas, desistir das pessoas, dos empregos, das histórias quando necessário. Entender que não é sobre todas essas coisas e status, é sobre a meta inicial: se sentir bem, sentir que tem liberdade para ser como se é. Lutar por ideias e direitos que façam a diferença.
Provavelmente vou passar por mais algumas várias mudanças até o fim do ano. Parece que algumas coisas do passado se repetiram para mostrar que não tem como só mudar os personagens da história, é preciso mudar a história em si.
E bem, esse é o projeto de vida.
Viver bem. Saber viver. Aprender a aprender.
Com amor,
Mamãe.