Carta escrita no dia 12 de julho de 2015.
Helena,
Faz alguns meses que eu olho para baixo e vejo uma ladeira íngreme, daquelas que dá medo de descer, tropeçar e cair, perder o controle, parar lá no fim, sem sentido algum. Talvez pior do que me sentir assim, tenha sido finalmente perceber que essa era a realidade faz alguns anos. Por meses e meses pavimentei uma estrada que não me levaria a lugar nenhum.
E quando meu primeiro instinto é me culpar, uma culpa que eu sei que vai ser amontoada nos meus ombros não importa o que, mais eu me questiono o quanto da minha realidade eu construí sozinha e qual a parcela que ficou paralela aos meus desejos, mas nunca em sintonia. Eu queria tanto que algo desse certo que não olhei as limitações, as divergências tão gritantes e evidentes.
Uma amiga me disse ontem que eu preciso aprender a desistir. E por mais que eu escreva sobre isso e queira conseguir, eu não sei desistir das pessoas, das situações. O meu medo de abandonar ou ser abandonada é tão maior que meu instinto. E eu me vejo ali cometendo erros que já foram cometidos um milhão de vezes.
Uma direção pode ser definida como duas retas paralelas. Geralmente o conceito de direção é confundido com sentido: uma das das retas pode estar indo para esquerda e a outra para a direita, e mesmo assim se manter paralela. Isso é matemática, mas podia ser só sobre a vida.
Às vezes é preciso desistir da direção para aprender a ter sentido, Helena. E fazer a coisa certa pode ser o ato mais doloroso da sua vida. Pode te partir ao meio, mas nem por isso pode ser ignorado. Ninguém encontra paz se escondendo da verdade, e essa é uma grande amiga da dor. Não conheço ninguém que vai escolher sentir dor, mas sempre escolha a verdade, por mais que ambas vivam numa perfeita simetria.
Eu aprendi a segurar o choro, a não demonstrar amor ou carinho, a conter minha fúria e principalmente a ser alguém que eu jamais serei. Talvez eu tenha me tornado tudo aquilo que sempre ouvi que era. Se por um lado eu estou começando a aprender a não colocar fôlego em causa perdida, eu também aprendi a silenciar minhas causas. Eu sentei em diversas mesas e ouvi sobre tudo que discordo, tentando encontrar argumentos para melhorar a situação. Eu percebi o que estava acontecendo e escolhi centenas de vezes me cegar. A culpa não é de ninguém, tudo isso foi o que eu também permiti.
Algumas violências ninguém comete contra nós, algumas é o dano causado por fazer a exata mesma coisa esperando resultados diferentes. E eu te peço perdão, Helena.
Você não vai lembrar de nada disso, mas eu realmente quero que você me perdoe pelas vezes que perdi a paciência sem motivo algum, que não fiz o meu melhor porque estava muito mal tentando entender qual era o erro.
O erro sempre vai ser não aceitar que algumas coisas não devem permanecer na mesma direção por serem bonitas, mas se separar para continuar mantendo a sinceridade e beleza de possuir um sentido.
Por sorte nosso sentido está agora do meu lado, dormindo, suspirando e sonhando com um futuro que eu sei que teremos.
Vai dar tudo certo.
Com amor,
Mamãe.