Carta escrita no dia 20 de maio de 2015.
Helena,
Com o tempo este blog se tornou minha âncora. Minha ilha no meio do mar revolto. É incrível como completos desconhecidos me consolaram nos momentos mais difíceis do último ano.
É incrível como o amor continua vindo dos lugares mais remotos. Recém conhecidos, amigos distantes, possíveis contatos. Mensagens de outras ilhas, de outros mares.
E tem dias que fico aqui lendo, lendo e lendo, tentando manter firme a convicção de que eu acredito no que te falo. De que é real as cartas. Um dia elas vão te ajudar.
Tem sido tão, tão difícil Helena. Você é tão pequena, tão doce, tão pura para o que eu sei que está por vir. Queria dizer para que você não se apaixonasse, não saísse de casa, não se expusesse, apenas não se tornasse alvo para tudo que existe.
Queria ter a certeza que você sempre irá sair daquela porta e retornará bem.
Eu não sei. Porque um dia eu saí e retornei quebrada. Porque vi outra filha, outras mães com outros filhos saírem e jamais voltarem.
Fico aqui repetindo o mantra: esperança, evolução, amor, respire fundo. E do outro lado da margem me vejo gritando para parar: esperança nunca ajudou em nada.
Tenho refletido muito sobre o termo resiliência. Sobre o quão dura pode se tornar a percepção humana. Quão duro se transforma nosso coração. Onde mora o limite onde devemos persistir. Resistir.
Um dos meus maiores medos é a solidão. Escrevo sobre ela, venço constantes batalhas, mas minha guerra ainda permanece. Vi seus vestígios e senti o sabor inúmeras vezes. Uma velha amiga que constantemente me espera em algum quarto da alma.
Nascemos sozinhos, morremos sozinhos.
Me pergunto o motivo.
Ela sussurra que não basta correr, ela mora aqui. Grita para espantar o medo, mas me causa pavor. Ensina que é preciso compreender que mais do que escrever, ler e falar, é necessário acolher a solidão.
É necessário aprender a conviver com os próprios fantasmas e ver ali o motivo de ser: em nós mora um Universo. Fragmento de estrela. Poeira do persistir.
Bilhões de anos de expansão lenta e solitária, criando belezas, desbravando sonhos. Nesse registro do que conhecemos mora a resiliência.
A vontade inabalável de ser melhor.
Buscar o melhor.
Nenhuma energia é perdida, tudo sempre retorna.
Retorne mais força por favor.
Com amor,
Mamãe.