Carta escrita no dia 16 de janeiro de 2015.
Helena,
Algumas pessoas dizem que não importa o resultado, o importante é tentar. Concordo, mas o impacto que a perda causa não pode ser apenas ignorada pela filosofia otimista. O choro da derrota e a tristeza do fracasso podem ser a pérola de todos os ensinamentos, basta saber entender.
Um dos maiores fracassos na minha vida foi o meu noivado. Havia sido meu primeiro relacionamento, aquele que me tirou da casa que tanto odiava, me presentou com uma filha, uma família e todas as mazelas que iria viver em dois anos e meio. No fim, não suportava mais a casa ou tudo aquilo que me lembrava o que era perder e coloquei um fim à tudo.
Um belo dia estava novamente enjaulada nas paredes que odiava, sem família, sem filha e com um luto para começar a sentir. Havia fracassado novamente, mas dessa vez a constatação foi feita por mim, na base de lágrimas e angústias.
Naquele dia, quando finalmente disse adeus, não sabia, mas tinha tomado a decisão mais importante da minha vida: a coragem de ver aquilo que estava aos meu redor e tomar uma atitude sobre isso.
As vezes o bolo não dá certo, a palavra é dita tardiamente, o seu pulo não é alto suficiente, a chuva caí antes da hora esperada, o que nos resta é admitir: não deu certo. Com uma frequência maior o resultado de nossa falta de maturidade ou compreensão põe tudo abaixo e o teto ruí sobre nós. É hora de declarar óbito à casa e estudar a construção de um novo habitat.
Dá medo, aquele pavor que sobe do peito e se transforma num grito silencioso. E Helena, quando você percebe esse nada na ponta da língua é hora de gritar.
O pior momento é quando você finalmente nota que todo o seu esforço e vivência chegou num resultado ruim. Jamais acredite que “serviu para nada”, todos os caminhos sempre levam ao aprendizado.
Arrumar as malas e partir, destruir os alicerces e construir, dizer adeus e olhar o espelho, refletir.
A melhor parte de fracassar sempre será o pedido que isso nos revela: todo fracasso exige mudança. Você não pode proclamar que algo se mostrou errado e não procurar mudar, pesquisar extensivamente os pontos que deram errado e tentar na próxima ser uma pessoa diferente, com um olhar mais sensível.
Quando virei a esquina da casa e percebi que jamais iria morar lá e viver com aquelas pessoas, chorei, mas não consegui não sorrir. Não existe liberdade mais plena que poder finalmente enxergar e caminhar com os olhos limpos.
Com amor,
Mamãe.
Quando estou lendo, abro meu coração e me sinto como sua filha. Gracias.
Paola, uma grande surpresa encontrar teu blog, tuas cartas. Lindo demais, comecei a me deliciar e me emocionar aqui.