A estranha mania de ter fé na vida

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Carta escrita no dia 29 de setembro de 2014.

Helena,

Já faz doze que estava lavando o banheiro quando tocou Maria Maria. Estava esfregando a parede quando ouvi Elis Regina pela primeira vez. Claro que já havia ouvido sua voz na TV, mas naquele momento foi como se algo tivesse quebrado e restaurado dentro de mim.

Por algum motivo sentei no chão e fiquei ouvindo a música até o fim. Não entendia nem metade do que aquela tal Maria queria dizer, mas a emoção daquela voz ficou em mim. Helena, foi a primeira vez que me apaixonei por uma história com melodia.

Quando você ler essa carta talvez não tenha realmente ouvido Elis como ela mecerece ser ouvida. Então, querida, coloque Maria Maria e sinta na alma a dor de um povo que ri quando deve chorar. Entenda que é preciso ter força, graça e gana sempre.

Perceba que Maria é você, eu, todas aquelas que sente. É sua avó que trabalhava madrugadas costurando para ir vender de bicicleta o que produziu num sol de 38°, apenas para voltar para casa com a mistura do almoço e algumas frutas. É também sua bisavó que criou uma dúzia de filhos sendo violentada, humilhada e mesmo assim conseguia olhar para as pessoas com esperança. A moça que sentou do seu lado no ônibus, que tem alguma história, que luta, porque mulheres não podiam nem sair de casa sozinhas na virada do século passado. É o seu direito de votar, de falar, de estudar e ser o que bem quiser.

E quando silenciarem o seu direito de ser, Helena, grite o mais alto que conseguir. Grite até você se machucar, grite o quanto for, porque a dor de ser silenciada é pior que a dor de estar exausta de se fazer ouvir.

Mas quando for mais do que você conseguir suportar, porque todos nós temos esse momento, apenas respire. As pessoas costumam relacionar a palavra fé com religião, mas ser uma pessoa de fé não ter torna fanático, te torna alguém que possuí esperança e força para esperar dias melhores. Mudanças lentas. Músicas latejantes que tocam a alma. Pessoas que vão te deixar uma marca. Histórias que vão derramar lágrimas e abraços que vão te fazer sorrir.

Uma vez lamentei te trazer num mundo tão machucado como o nosso. Acreditei que possuíamos algum tipo de maldade, onde todos são vítimas e vilões, mas hoje sou apenas feliz. Você terá a chance de fazer diferença na sua vida.

Com amor,
Mamãe.

2 comentários em “A estranha mania de ter fé na vida”

  1. Paola, você não me conhece, mas através do seu blog, há alguns meses, conheci você e a Heleníssima, li todos os posts de uma vez e corro pra acompanhar sempre que recebo um e-mail avisando que você postou coisa nova. Sei que isso pode soar muito estranho, mas sinto como se vocês fossem da minha família; como se fôssemos amigas. Temos a mesma idade e você já passou por tanta coisa, já venceu tanta barra, que cada vez que te leio, gostaria de te dar um abraço. Você é uma mãe foda e a Heleníssima vai crescer muito plena, com pais tão amorosos e cuidados a cercando de cuidados e sabedoria. Desejo toda a felicidade do mundo pra vocês três!

    1. Olá, Bia!

      Me sinto muito estranha quando leio algo assim, porque não sei como responder… Poderia te dar um abraço, passar uma tarde tomando café e discutindo a vida, te ajudar em algo, mas não consigo colocar em palavras o carinho que sinto em ler isso. Muito, muito obrigada querida.
      Muito obrigada por nos deixar entrar e fazer parte da sua família.
      Nós tentamos realmente fazer o nosso melhor, mesmo quando bate a loucura e ler isso só me dá mais força e alegria na vida. É bom saber que existem pessoas generosas como você, que nos deixam existir de forma distante.

      Tudo de lindo para você!
      Beijo
      Paola.

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