Carta concebida no dia 8 de julho e finalizada em 19 de julho de 2014.
Helena,
Quando olho para as pessoas com um pouco mais de atenção, imagino suas histórias, os ajustes e curativos que os tornaram inteiros para a fila do mercado, entrar no salão contando seus causos, andar pelas ruas com mentes atarefadas. Foram incontáveis as vezes que dei voltas sem sentido em lugares assim, porque pessoas distraídas dizem muito de si.
Um dia, igualmente distraída, me olhei no espelho e não sabia bem quem estava ali. No meu rosto havia olheiras escuras, meu cabelo estava em desordem, meu peso estava acima do que gostaria e havia um brilho fervoroso em meus olhos. Aquilo me assustou a alma dos ossos, pois não existe nada mais chocante que o momento que você nota por onde sua vida andou.
Sempre ouvimos sobre os milagres, esses pequenos malandros que acontecem não sabemos porquê, não decidimos quando e nem como. Existe um murmurio constante sobre eles, todos desejam e eles andam raros por aí, dizem. Pessoas extremamente boas são milagres, curas de doenças graves, mentes geniais, atos de generosidade. Eles estão flutuando, até que alguém os chame e dê o nome a algo que fugiu do normal.
Mas e o normal, Helena, não seria um grande milagre? Há um ano você nasceu. Suas mãos, seus pequenos pés de dedos tortos, suas vísceras e coração, crescendo em meio ao meu ser. Dois corações, duas mentes e duas pessoas num único corpo. Quando vi, você estava do meu lado, enrolada em cobertores, respirando, sobrevivendo do meu corpo, percebendo o mundo e se descobrindo. Não posso descrever nada mais assustador e incrível que presenciar o nascimento de uma vida.
Se a morte te deixa um cheiro, a lembrança que tudo se vai, o nascimento nos deixa a visão do porque dessa existência tão cheia de desafios. Nascer é raro, mesmo com 8 bilhões de serem nesse mundo. Ninguém nasce igual, ninguém vive em termos idênticos, os sentimentos são diferentes no ser de cada um. Temos 8 bilhões de paixões, dores e alegrias. 8 bilhões de lindos milagres comuns, para o bem ou não.
E ali, daquela cama de hospital, vi o sol nascer e aquilo se tornou um milagre. Aquela bola de fogo e energia, jogando sua luz sobre um planeta cheio de mistérios, cedendo vida e luz. Tudo naquele dia foi um milagre e assim tem sido.
As vezes estou com tanto sono, preocupação e tarefas que não me deixo perceber esses pequenos detalhes prazerosos e indizíveis, mas parar é preciso. Helena, os milagres comuns estão aí. Quando deixamos de ver esses detalhes, estamos igualmente inaptos de apreciar possíveis grandiosidades.
Você fez 1 ano, somam-se 365 dias e todos eles foram milagres. Únicos e plenos em sua existência. E por onde anda você agora?
E aqui estou, sua mãe, com olheiras, descabelada, meio cansada e estupidamente feliz por você existir, consciente de que faria tudo de novo e que viveria cada momento ruim, porque eles me trouxeram aqui. O preço que paguei por esses milagres diários em minha vida é compreensível.
Vai ter dias que você irá desejar um milagre, uma saída, algo lindo e fácil. Talvez irá se lamentar, chorar e buscar alguma resposta para a má sorte e meu conselho é de que você olhe além da borda. Na borda de todos os problemas e pessimismos existe algo bom, aquele milagre torcendo para que você apenas perceba aquilo que é facilmente ignorado por olhos desatentos.
Pratique o olhar e tenha uma boa memória quando encontrar os momentos que valem o resto da sua vida. Cante parabéns mesmo que sozinha e comemore cada ano de sua vida, porque eu estarei logo ali, aplaudindo este milagre.
Feliz aniversário.
Com amor,
Mamãe.
sou na verdade uma helena….nao sei qm escreve estas cartas mais me indentifico mto……e parabens pelas palavras….e mais do q parabens obgada pelas cartas….obgada por existir……vc faz um bem q nao sabe o qnto…..mtuuuu.mtu….grata pelas historias e ponto de vista….