A carta “Helena, você pode ser um menino se quiser” teve uma visibilidade muito maior que a esperada, então me vi na responsabilidade de discutir alguns pontos aqui.
Antes de tudo é necessário entender porque o Cartas para Helena foi criado. Antes mesmo de me descobrir grávida de Helena, tinha um medo enorme de morrer e não ter dito tudo que queria. Percebi mais cedo do que gostaria que a morte é realmente um ponto final, depois dela não poderia mais dizer os milhões de coisas que gostaria.
Quando o teste de gravidez deu positivo, comecei a escrever mentalmente várias cartas para o bebê que nem sabia o sexo ainda. Queria contar um pouco sobre mim, sobre o que acredito, aquilo que gostaria que meu filho ou filha soubesse, caso um dia não desse tempo de falar tudo. Também é um lembrete, do que sou, de quem fui, de quem quero ser. Tudo que aprendi e do muito que ainda vou aprender.
Mas porque publicar isso para todo mundo ver? Porque estou sozinha. Tenho vários amigos, uma família linda, contatos e todo o resto, mas escrever é liberar aquilo que tenho de mais profundo, no meu caso é terapêutico, é libertador. Vários blogs, sites e relatos mudaram aspectos da minha vida e se me fosse dada a oportunidade de fazer parte da mudança de alguém? Internet é algo incrível, fiz dela minha ferramenta de conexão.
Porém, nunca desejei visibilidade, de tanto que só compartilhei as cartas até então na minha página pessoal do Facebook. Não sei como ou onde, aquela carta específica ganhou espaço e em poucos dias já havia mais compartilhamentos do que imaginava. Vendo que ela estava criando sensações positivas, tentei divulgar no meu espaço pessoal na Obvious e desde então tudo decolou de uma forma estranha.
Fica esperança de que alguns assuntos que vá abordar em minhas Cartas possa estimular o diálogo sobre alguns assuntos, para filhos mais reflexivos e felizes com quem são.
Primeiro: Li todos os comentários e tenho respostas específicas para cada um. Não vou conseguir responder tudo agora, porque também há algumas dezenas de emails e tenho uma tendinite que me impossibilita de digitar muito.
Gostaria realmente de agradecer a tantas histórias contadas, corações abertos e mensagens belíssimas. Foi um prazer me conectar com vocês e a minha maior felicidade nisso tudo foi perceber que faço parte de milhares de pessoas que só querem ser feliz e deixar o mundo também ser.
Segundo: Houve comentários ofensivos e de ataque, mas infinitamente menores. Dando um número exato: 8. Só que não vou fingir que não me abalou, porque seria uma bela mentirosa.
Acredito que qualquer um pode discordar, discutir sobre, argumentar, conversar. Existe uma caixa no “Quem escreve?” para quem quiser entrar em contato direto e irei sempre responder, só não prometo que será imediatamente. O ponto é: Porque é tão imoral e burro deixar que nossos filhos escolham quem querem ser?
Usar como argumento “A moral e os bons costumes” é como dizer que “Você pode ser infeliz, apenas viva corretamente”. O que é correto? Não acho correto ser oprimido, violentado, esmagado por uma força que exige que você viva num molde tão antigo que já não funciona. Toda essa moralidade está matando inocentes, porque criamos pequenos tiranos, que apontam o dedo e falam ofensas como pérolas.
Somos únicos em um sentido: personalidade. Cada um gosta de uma fruta, uma cor, tem sonhos, tem uma vida e tem o direito de lutar por isso. Não me importo se a religião diz algo, se o pai ou mãe discorda, não me importo se a vizinhança se incomoda, só me importo no que iremos fazer com os pequenos anos de vida que temos para usufruir. Quando dizem que a vida é muito curta para ficar perdendo tempo, não dê risada, é isso mesmo, não vá perder seu tempo com preconceito e, por favor, não perda tempo se apegando a conceitos morais insuficientes, que matam sonhos e aleijam a alma.
Terceiro: Este blog continua sendo o que é. Há ainda 8 cartas de antes de março, só que preciso edita-las, já que foram escritas com uma formatação de rascunho e terá muito mais até o dia que Helena puder ler elas e tudo que elas atingiram. Se você se sentiu bem ou tocado com algo aqui, seja bem vindo.
Quarto e último: Precisamos falar sobre meninos e meninas. Precisamos discutir nosso modelo de família, nossa estrutura como sociedade, nossos conceitos quanto pessoa e nossos sonhos para o futuro.
Vejo todo santo dia e fiz parte de uma família religiosa, composta de pai e mãe, sou branca e heterossexual. Isso me garantiu felicidade? Não. Imagine quem não tem algum dos pontos citados, ou pior, não tem nenhum. Há felicidade num mundo que não aceita isso?
Existem animais na natureza que se camuflam perfeitamente ao ambiente, é uma forma de se proteger dos predadores, se camuflar é segurança, todos os dias nos camuflamos de alguma forma, para poder acessar o mundo onde tudo é ofertado ao normal. Lembro que um dia li num jornal sobre mariposas que estavam ganhando uma pigmentação mais escura, assim como a casca das árvores, que estão cada vez mais afetadas pelo nosso meio ambiente.
Estamos constantemente evoluindo para sobreviver, realmente gostaria que todos reconsiderassem velhos hábitos e crenças, porque não somos mais como há 2 mil anos atrás, nem 200 anos, nem 50 anos, nem 10 anos. Hoje temos outras necessidades e precisamos conversar sobre isso, porque nossos filhos merecem um mundo melhor.
Paola.
Paola, (já) te admiro muito como ser humano e mãe. Conheci seu site ontem e fiquei emocionada, pois escrevo cartas para mim mesma desde pequena e quero expandi-las para o meu filho ou filha. Obrigada! Não pude deixar de reparar alguns erros ortográficos e de digitação (normal), mas que sem eles tudo ganha mais credibilidade (odeio essa palavra, mas não consegui encontrar outra, me desculpa. Não quero ofender, nem criticar. Eu sou revisora de textos e poderia te ajudar nessa questão, se você tiver interesse. Eu tenho 🙂
Qualquer coisa meu e-mail está aí.
Um beijo!
Paola, (já) te admiro muito como ser humano e mãe. Conheci seu site ontem e fiquei emocionada, pois escrevo cartas para mim mesma desde pequena e quero expandi-las para o meu filho ou filha. Obrigada! Não pude deixar de reparar alguns erros ortográficos e de digitação (normal), mas que sem eles tudo ganha mais credibilidade (odeio essa palavra, mas não consegui encontrar outra, me desculpa). Não quero ofender, nem criticar. Eu sou revisora de textos e poderia te ajudar nessa questão, se você tiver interesse. Eu tenho 🙂
Qualquer coisa meu e-mail está aí.
Um beijo!
Olá, Paola!
Acabei de ler a carta “Helena, você pode ser um menino se quiser” e cheguei nesse post… compartilho do mesmo pensamento… ainda não tenho filhos, mas sempre me pego pensando se/quando/como os terei num mundo tão complicado, preconceituoso, invasivo e opressor.
Espero que essa visão mude e que, no mínimo, as pessoas tenham mais respeito pelas decisões das outras. E é isso que desejo, que você eduque sua filha com todo o seu amor e que te permitam isso sem julgamentos.
Sua coragem me anima!
Paola, seu texto me conquistou. Apesar de ter sido trazida aqui pelo texto sobre ser menino ou menina, li cada carta e estou apaixonada. 😉 Adoro escrever cartas para o meu filho e me identifiquei. Virei fã. Ainda mais com um ponto de vista tão similar. Beijos, Julia.
Paola,cheguei até seu site pelo texto você pode ser menino ou menina, sinceramente eu tiro o chapéu pra você, sou Homosexual assumida noiva a cinco anos tenho um afilhado de quase 3 e que, por vontade propria me chama de pai, como será quando ele realmente entender? não sei, mais vou lhe dar o direito de me chamar como quiser assim como eu o ensino que pode ser o que quiser (claro tudo no seu limite) ainda mais na fase que ele está a da pura manha kkkk. Bom tambem comecei a escrever cartas pra ele quando tinha alguns meses e por fim não continuei. Só quero deixar aqui minha admiração por você, pela maneira em que criará sua filha, por ser uma mãe tão jovem assim não esperava um pensamento tão aberto e sábio, sinceramente você hoje ganhou mais um fã.
Paola,suas cartas são pura sensibilidade e inteligência evolutiva.Filha feliz a sua.Li também os seus motivos de escrever,que fugiram ao controle mas a Internet eh assim.Ainda bem,nesse caso.Li também os comentários,até aquele dos errinhos ortográficos mas nada que comprometa a mensagem.Mas seria bom aceitar a ajuda desinteressada da leitora.Acho que para a maioria dos leitores,as suas mensagens são positivas.Grata,Rachel.